Sofre-boi na pastagem
Sofre-boi no abate
Mais um na embalagem
Para que minha fome mate...
Sofre-boi no espeto
Sofre peixe, sofre galeto
Sofre-boi no prato
Sofre beagle, sofre rato!?
Sofre dilatado ganso
Sofre frango com-finado
Sofrem sem descanso!
Sofre no torresmo o suíno
Sofrem pais, mães e filhos
Sofre boi rastreado
Sofre no hormônio os novilhos
Sofre boi no açougue
E não há quem rogue
Sofre boi
com ou sem rodeios
Sofre na maquiagem a baleia
Sofri pela dor alheia
Sofre boi no churrasco
Só free o homem: carrasco.
Este blog contém alguns dos poemas e contos que escrevi.
Sintam-se à vontade para criticá-los.
segunda-feira, 17 de agosto de 2015
domingo, 9 de agosto de 2015
Mestres
Grande mestre Ubaldo
Em seus livros me esbaldo
Uma delícia satírica de acarajé
Mistura de Oxóssi e Oxumaré!
SuaSsuna por que parte?
Sua sina é nossa cultura
A inspiração vem da figura
do cordel e da fábula: genuína arte.
Ah que delícia de bobó
Esses escritores, veja só!
Essa brasilidade do frevo ao carimbó.
Ó Formas Rubens,
Ó Formas Alves
Outra perda nestes mares.
As palavras choram
As linhas trazem lírios
As personagens estão em greve
Praias chuvosas, maré baixa
As letras tomam anti-depressivo
Esse luto que luta para aceitar a realidade
Essa mente que tanto mente
Ora oásis, ora turbulência
Onde refugiar os medos,
Estacionar as angústias,
Saciar essa vontade das novelas e suas intrigas!?
Como vamos consolar as metáforas?
Quem vai maquiar as paisagens?
Os livros se curvam frente à genialidade dos
Mestres.
Inspiração Poética
Encha-me de luz, ó trevas!
Complete-me de vazio, ó tudo!
Pois o poeta tem de começar do nada
para que a magia o invada no retumbar
do coração.
Entupindo as artérias de idéias.
Libertando a fala do sentimento mudo.
Encharcando os ossos de emoção
E exprimindo a sabedoria represada.
Ó palavras, jamais cessem de
alternativas fornecer,
Propiciando a explosão que se
propaga tipograficamente
e incitando o intrínseco
resplandecer d’alma humana.
Ó Musa, conceda a estes músculos
fatigados enrijecer,
permita repousar serenamente e
alegremente a mente
e alimente de sonho e esperança esta
vida insana.
Criatividade Poética
O que fazer se vejo arte
a cada instante, em toda parte?
Vejo corar-te
na cor & arte.
Sou alguém que lima a rima
Da alfazema traz alegria extrema
Do lírio
extrai colírio
Sou um louco que vive e versa e
vice-versa.
Amo tanto a rosa quanto a prosa.
Verso e reverso o
verso e o inverso.
Falando do
adverso ou controverso.
Refinaria
Quem me dera o óleo bruto
Das palavras jorrasse
Que injetasse dor às estrofes
E delas vertesse um mísero fruto.
Que refinado fosse este poema
Tornado em explosivos versos
Que mudasse e tocasse
pelo menos um motor vivente.
Que a pressão profunda
inflasse a fraca rima
E a fizesse útil e rica.
(Mas só ar sai da tubulação...)
Quanto desse pré-sal
serão lágrimas desse novo velho Portugal!
Quanta corrupção nesse libriano campo abissal!
Refeição
Diga, Melpômene, o
que é um drama?
Apolo recebe a flecha
de Eros
Dafne o despreza e
assustada foge...
Cansada em árvore é
transformada
Ó, Bernini, que
barroca obra
Esse movimento em
már-morre eterno!
Ainda raptam mulheres
e as violentam
no século XXI:
quanta rapina!
Ainda me lembram de
Proserpina
Que
Rossetti imortalizou
Por
Plutão ser-vida no prato da morte
Entes
O que Boticelli pintaria
se soubesse que um pai mudou de sexo
E fez inseminação na mãe dele?
Estranhas sem-entes
Da concha nasce de Vênus
que do mar emerge
O pai-mãe: sopro de Zéfiro
Hora, a mãe-vó, traz o manto
Oeste: Paixão espiritual
Obra genuína, pagã
Valores que se renovam
Quem pode julgar o Desejo?
Ninguém está certo de nada
Só nos resta a harmonia artística
Drummond revisitado – liberdade LGBTQIA
Pedro que amava Carlos que amava Lucas que amava Juca
que amava Dora que amava Léa que amava Rita que amava Dora
que amava Lia que amava orgia
que amava Jó que amava um pó
que amava Minerva que amava erva
que amava Buba que amava uma suruba
que amava a filha que amava o pai que amava o sogro que amava Che
que amava toda a guerrilha...
Che foi para Cuba, Lia não dormia
Jó na baleia, Minerva na guerra
Webber que analisava a burocracia
Marx que criticava a burguesia
que amava Dora que amava Léa que amava Rita que amava Dora
que amava Lia que amava orgia
que amava Jó que amava um pó
que amava Minerva que amava erva
que amava Buba que amava uma suruba
que amava a filha que amava o pai que amava o sogro que amava Che
que amava toda a guerrilha...
Che foi para Cuba, Lia não dormia
Jó na baleia, Minerva na guerra
Webber que analisava a burocracia
Marx que criticava a burguesia
Freud que amava sua mãe e sua filha!
Dualidade
Ora Cômico como
Thalia
Ora sério como
Polímnia
Esse inconsciente
animal e inacessível
Esse lado exi-lado
de mim
Essa cor
transparente
Esse vácuo sonoro
Paladar tão
insosso
Toque jaz
insensível
Cruz pátea:
religioso animalesco
Essa razão que
não vê razão
No que faço
Essa dor do vazio
de existir e não
saber o porvir
Figueira: há
nirvana!?
O culto
Esculpido
em Carrara
Forjado em proteínas
Escondido narcisismo
Profundidade rasa
Dorso-duro, mente flácida
Política e religião morreram
Só nos resta
O-culto ao corpo
A imagem
Forjado em proteínas
Escondido narcisismo
Profundidade rasa
Dorso-duro, mente flácida
Política e religião morreram
Só nos resta
O-culto ao corpo
A imagem
Tradição
Nós homens ainda
achamos certo
que lugar de mulher é
em casa
que deve comandar a
cozinha
E cuidar da filharada
Igreja valoriza mais
o corpo
do que guia a alma
Não ao aborto,
pedofilia,
Não ao casamento
gay!
Com-tradição de
cultura
Na camiseta
atrás-diz-são
mas na frente só
vejo hipocrisia
Bolaño diz num conto
Na sala: alta classe
No sótão: tortura
Pô-ética
Esquecida jaz agora
Ganância sem escrúpulos
Pesquisas manipuladas mundo afora
O romantismo morreu
Poetas sem amantes
Cadê o lirismo de Orfeu?
Pô-ética quem a resgatará?
Só resta um pó-ético...
Só-corro
Só-corro nessa vida!
Vai-e-vem louco
que aproveito tão pouco
esta dádiva recebida...
Peço então socorro
Por que tanto medo
se a gente parte tão cedo!?
E nem diz: “por amor eu morro!”
Dor que me devasta
Como a solidão invade
Se a Terra é tão vasta?
Socorro! Só corro! Basta!
Cadê felicidade?
Por que de mim se afasta?
A vida abriga
A vida abriga
Amizade, amor, aventura
A vida: diária a-briga
Dor, desilusão, clausura...
Ôh briga do homem
Que a deixar princípios nos obriga
Pois pessoas vêm e somem
Nesse teatro que intriga
O-briga-do universo
Que estupenda arte constrói
Depois que batalhas perdidas remói
E nos obrigam a brigar com o verso...
Posto de saúde
Na cabeça dor lancinante
Delírio: Pandora ou asna de Baleão!?
O soro há muito não pinga
Falta remédio, falta seringa.
Espera, agoniza, infinita tortura
Febre, moleza, tontura.
Um áspero amarelo engole e inala
Consulta: volte depois!
Pois o médico faltou na escala.
Desvio, tanto descaso
Que SUS-tenta omitir
No chão de gente um tapete
Sem bisturi, vai de canivete!?
Na veia entra a agulha
Na visão nada que orgulha
Nada de curativo, nem de exames
Só promessas infames.
Uma pedra... no meio do caminho
Uma pedra no rim
Como voltar da anestesia?
Cruz, a-dor-meço na desigualdade.
Lenços nos túmulos das alas...
Cala o grito, cala a vida.
Viva a indústria farmacêutica
Virose, virose, é dose?
Paleolítico, neolítico,... ansiolítico.
O posto de saúde
O-posto de saúde...
Human Race
Hurry up or you’ll be
late
Losers we don’t
tolerate.
Devour the others as
you pass by
For not to be the next
to cry.
Mindlessly
to be the ace
That’s
the human race.
Get set for another
clash.
Don’t complain if you
fall and gash.
Satisfy your increasing
needs.
It does not matter if
someone bleeds.
Live well at this
frantic pace.
Battles are a reality
to face.
I’m almost losing my
faith
To save my beloved
Earth.
Why so many contests?
To recognize I’m not
the best...
I can’t stand life is
so cruel
Do every time we need
to duel?
Rushing over this
endless match,
I’m fed up to suffer
and scratch.
Accelerated for the nip
and tuck,
I forget that
competition is luck. (...sucks).
These absurd rules
makes me tear
To counter my
elimination fear.
Always bustling, I need
to shout:
“Can’t I escape from the knockout?”
Amortecer
Enquanto eu voo pelo ambiente Linda aranha prepara a armadilha Fio delicado e atraente Quem se prende não se desvencilha Indefeso caio e me debato Ela se aproxima do prato Sua mordida extasia, entorpece Envenena, amor-tece... Aos poucos me entrego não adianta mais minha prece: É paixão não nego!
Do-eu
Cada olhar querida
É uma enorme ferida
Demais doeu
Dô-eu um tempo!?
Não quero o afago
seu
Doeu, não mais me
entendo
Só aqui sofrendo
Dó-eu sinto muito
Do-eu profundo...
ignorante
Corro-eu de novo
Ver-teu amor
distante...
Digestão
A. Massa chegou em casa após um
cansativo dia de trabalho. Após o banho preparou a refeição,
fritando hambúrguer, esquentando arroz, uma simples salada. Sua
mente aos poucos ia se desligando do dia: as ligações, as
multitarefas, as cobranças. A adrenalina no sangue diminuía. Mesmo
assim continuava com um olhar distante. Estava em piloto automático.
Sentou-se no sofá, equilibrou o prato e ligou a televisão.
Um corte na carne, apresentação
das principais notícias do jornal. Uma garfada, informações sobre
violência no Rio. Trêmulo, aproximou o garfo da boca. Notícias do
tempo, mais calmo deu uma mordida. Quase não piscava. Com rapidez
engolia os alimentos. De tão desconcentrado os largos pedaços
desciam com dificuldade pela garganta empurrados pelo refrigerante.
A informação também era difícil
de engolir, de assimilar. Bastidores da política de Lizarb:
intrigas, corrupção. O amargo da rúcula lhe invadia as pupilas. A
economia e suas antigas novidades: crise e desemprego.
Uns 5 minutos e já acabara. Como
seria a digestão de tão veloz refeição? Haveria tempo para
absorver os nutrientes? Momento para uma sobremesa: iogurte. Notícias
do esporte: grandes clubes, grandes contratos, entrevistas com
jogadores e técnicos. Eles esbanjavam saúde. Ele tentava os
imitar... Se jogava? Sim. Da mesa do escritório para o sofá, depois
para a cama. Sedentário sentia o sabor do morango adocicando a boca.
Uma notícia relâmpago sobre alguma descoberta
científica. Mal falavam dos pesquisadores (era um tratamento quase
tão importante quanto ao dado aos jogadores). Encerramento da
edição. A. Massa continuava em um estado pouco reativo, não
conseguia questionar e absorver as informações.
Algumas horas depois e ainda estava estufado. Dor de barriga. Era uma pena. No vasto banquete de idéias, havia pouco tempo para refletir, estabelecer relações, conectar conceitos, apreciar sentimentos, desfrutar memórias, saborear versos, deglutir textos. A. Massa se contentava com alimentos pouco nutritivos: cachorro-quente, hambúrguer. Tudo semi-pronto, já preparado. Não queria, nem conseguia criar novos pratos, novas perguntas, novas oportunidades.
Congresso
Cientistas
reunidos para um simpósio sobre um assunto relevante para a
humanidade: fotos revelavam novos espécimes flagrados em situações
no mínimo inusitadas. Paleontólogos datam os primeiros exemplares
com 60 milhões de anos, Andalgalornis
steullionatus,
predadores vorazes do erário. Evoluíram chegando a Cathartiformes
não-catárticos, Accipintriformes espoliaturious, Falconiformes
desviatudus, Stringiformes sonegatudus.
As
descobertas detalham os hábitos do Uruporcos expertus
um raça híbrida do cruzamentos dos Coragups atratus (do
grego, korax=corvo, gups=abutre e do latim atratus=vestido de
preto,luto) com os Sus
domesticus.
Seu
habitat são os currais eleitorais onde vivem brincando na lama.
Segundo
os estudos os ciclos migratórios variam. A cada 4 anos as revoadas
se dispersam nas cidades espalhando muitos papéis pelo chão,
cavaletes pelas ruas e se envolvem em intensas disputas territoriais
para se apropriarem da carcaça municipal ou estadual. Usam seus
passos de urubu malandro para bambolear e chamar a atenção em
palanques, rádio e televisão.
Há
também ciclos curtos de migração da espécie nas quais elas saem
dos currais eleitorais e batem asas para o distrito federal. Chegam
aos bandos e aos brados para se alojarem em apartamentos funcionais.
Uruporcos
são insaciáveis, recebem auxílio paletó para vôos com elegância.
Para manter a espessa camada de gordura, suas presas favoritas são
caviar, queijo brie ou Pule, champagne Krug
Clos d’Ambonnay
com 100% de uvas Pinot Noir , vinho Hermitage
La Chapelle 1961. Adoram retocar as plumagens alguns com tons acaju e
outros com preto graúna.
Facilmente
dominam os Anseriformes, vulgo marrecos e os Galliformes, jacus. São
relações ecológicas de colonelismo, clientelismo, esclavagismo,
parasitismo, chegando a casos extremos de amensalismo educacional (o
que impede em alguns estados de se questionar e se desenvolver) e
predação do recurso público. Seu principal mecanismo de defesa são
as égides dos habeas corpus, foros privilegiados e advogados
criminalistas do mais alto gabarito.
É
lindo apreciar uma revoada de Uruporcos em seus carros pretos
passando pelas asas Norte e Sul. Admirável. Em dias quentes, pousam
nas margens dos rios e lagos (Paranoá, principalmente) para beber
água e resfriar as pernas para acertar conchaves e lobbies ou
receber propinas.
Nos
outros poderes em protocooperação estão os Gaviões
sanguessugas donos de
um saber político, econômico e controle de gastos do maior
gabarito. Habitam nos covis e surgem para propagandear que promovem
justiça social e inclusão enquanto se apropriam dos recursos e
instituições para se perpetuarem eternamente no poder executivo.
No
complexo ecossistema descoberto pelos cientistas, há as Corujas
paquidérmicas
responsáveis por julgar Gaviões e Uruporcos. São processos muito
ágeis e pouco burocráticos quase como nos casos dos marrecos e
jacus. Em geral, são processos encerrados por prescrição ou
esquecimento dos marrecos ou mal-informação dos jacus.
Todos
defendem as Águias Leões Tubarões financiadoras das migrações
sazonais para os currais e zonas (prostibulares) eleitorais. Estes se
alimentam da corrupção nos países e economias em decomposição.
Fato
é que os Gaviões adoram deixar seu legado em placas e obras nas
quais convidam jacus e marrecos para admirar inaugurações. Já
Uruporcos amam fazer ninhos em árvores mortas. Há sempre “Filho”,
“Neto”, irmãos, cunhados, sobrinhos cuidando do emporcalhamento
chiqueiral. Eles migram com sucesso para defender o ecossistema do
país com muito valor, vigor e honestidade.
Uruporcos
são desconfiados, comportamento estudado pelos biólogos e
psicólogos, pois é de se estranhar já que sempre agem eticamente.
Mas não abrem mão (ainda não há artigos sobre o assunto) de seus
Uruporcos comissionados para ajudarem nas caças para ordem e
progresso nacionais. É muito comum apreciar uma equipe de
comissionados em formação 'V' nas jornadas mais longas.
Uma
sessão urusuína é divertidíssima, a revoada se atropela em
discursos atabalhoados enquanto a mesa diretora coloca pautas em cima
da hora para votar os rumos da população (apesar de estudos
recentes de ciência uru-política demonstrarem que há ligeiramente
um favorecimento do interesse aquilino leonino tubaronês).
Marrecos
exploradus se preocupam com a escassez de atividade ecônomica, a
dificuldade de tratar dos filhotes, dos bicos e das gripes, porém os
Gaviões e Uruporcos dizem a cada 4 anos de modo metódico e
eloqüente que Saúde e Educação são prioridade de governo. Não
há no mundo marrequino quem duvide da boa intenção de ambas
ilustríssimas e excelentíssimas espécimes.
Espantosa
foi a recente descoberta dos cientistas que com sofisticados
aparelhos de escuta e cruzamento de dados encontraram indícios que
vários Uruporcos, Gaviões e Corujas praticavam delitos. Chocante e
inédito! Aliás, os únicos predadores conhecidos dos Uruporcos são
as Sucuris amarelas policias federalis.
A
alta cúpula urubu-suína arquitetou muitos planos para parecer que
queriam endireitar as contas e amenizar a vida sofrida de Jacus e
Marrecos. Mas sem piorar não há como garantir o sustento de clãs
mais poderosos daqui 4 anos nos currais com troca de Uruporcos por
Tucanos ricallis ou Galinhas
Raposas paralamentaris.
“Tucano
bom é empalhado” diz um ditado ecologicamente incorreto. “Galinha
raposa não sai do muro” diz
um outro e a crença popular é que bota ovos de ouro. Todos
envolvidos procurando proteção. A mídia jacu é pouco tendenciosa
e faz uma cobertura imparcial de todos os envolvidos em casos de
desvio de recursos.
Um
outro hábito dos animais analisados é o “Allopreening”.
Eles executam a limpeza de outro indivíduo do clã partido aliado
(grupo social) cujos motivos reconhecidos pelos biólogos foram:
apadrinhamento, posicionamento hierárquico, indicação em
ministérios e autarquias, toma-lá dá-cá, ajuda com cobertura de
casos de corrupção.
A
luta está em aberto, o país pelos ares, desconfiança e medo se
espalhando como os aquilinos leoninos tubarões mais gostam para
aproveitar rendimentos financeiros para não investirem nada e
lucrarem muito. Quem pagará o Pato? Marrecos perdidos e Jacus
descrentes se preparam. E continuamos sempre voando para sermos
presas dos carniceiros.
Guerra de Canudos
Acabara
de se graduar. Formatura bonita, momento de agradecer aos familiares
pelo apoio e compartilhar a alegria com os amigos. Na colação de
grau eram cinqüenta. Vários diplomas entregues, agora a serem
pendurados na parede.
Segunda-feira,
findo os estudos e festas era hora de procurar emprego. Começava uma
nova guerra. Antes de entrar na universidade os gurus diziam que área
estava em plena expansão. Estranho é que ao se formar o momento era
de forte recessão na área e não encontrara grandes oportunidades
de emprego antes de se formar.
Por
isso contratara Antônio, conselheiro... de carreira profissional.
Recebeu dicas de como escrever o currículo e carta de apresentação.
A outra lição, bem mais difícil, era aprender toda a interpretação
cenográfica de como se portar nas entrevistas: não olhe para baixo
(olhe nos olhos); não cruze os braços; não gesticule (será que o
ideal seria mover apenas os lábios?); conheça o que a empresa faz;
seja sincero: não minta, só omita a verdade.
Primeiro
processo seletivo, começaram com formulários intermináveis: nome,
endereço, telefone. Depois questões pessoais: informe três maiores
qualidades e três defeitos (a parte mais difícil), descreva seus
sonhos (podia dizer que dependia do dinheiro disponível?). Logo
após, uma série de questões técnicas práticas bem mais
desafiadoras que as aulas teóricas que precisou estudar para se
formar.
Passando
na primeira fase, dias depois foi convidado para participar de uma
dinâmica de grupo. Na roda em que se formara, identificou quatro ou
cinco colegas de turma. O coordenador apresentou-se como Euclides da
Cunha (por algum motivo o nome soava familiar). Pediu que todos se
apresentassem e contassem um pouco de seus metas profissionais e
pessoais e porquê gostaria de trabalhar na empresa. Cada indivíduo
usava como arma a melhor eloqüência possível para explanar sobre
suas prioridades, gostos, êxitos alcançados e objetivos para o
futuro. Euclides registrava tudo atentamente. Eram seres humanos com
objetivos muito semelhantes de usar sua saúde e capacidade de
trabalho para buscar felicidade com sua família e amigos.
Quando
todos terminaram Cunha determinou que se formassem grupos de 5
pessoas de acordo com as posições em que estavam sentados. No total
3 grupos. Então receberam um problema real da empresa que precisava
ser resolvido de modo consensual pelos membros da equipe. Aí, a
batalha efetivamente começou, cada indivíduo defenderia sua
ideologia. Não haviam escudos, canhões, espadas, sertanejos,
governo, rico ou pobre, monarquia ou república. Mas haviam canudos
se digladiando nas idéias, na habilidade de persuasão e na
capacidade de raciocínio. Sou bacharel USP, outro mestrado em
Oxford, e outro pós doutor em Stanford, e outro falo 5 línguas, e
mais outro intercâmbio social na África do Sul. Réguas
balançando, lápis pontiagudos perigosamente rabiscando. Certamente
haveriam baixas em ambos as frentes, apenas dois seriam contratados.
Com
muito vibração recebeu a notícia que estava selecionado para a
última etapa da seleção: a entrevista. Com nervosismo aparente
atuou no palco do escritório para o chefe ( seria do exército?)
conforme Antônio lhe ensinara.
Ansiosamente
aguardou pelo resultado. Recebeu-o via correio eletrônico.
Descobriu, contudo, que conselheiro estava do lado errado para aquele
processo: a empresa precisava de um outro perfil, mais despojado.
Fora capturado e rendido pelo inimigo. Derrotado na derradeira etapa
da luta.
Apesar
do desânimo, sabia que a vida teria de continuar, pois as guerras
nunca cessam. Além do mais, a vantagem da juventude é que há
bastante ânimo para tentar novamente por várias vezes.
Certa
vez o rapaz leu na Internet que: “Racionalize assim: enquanto
houver muito mais candidatos do que vagas, o mercado não se
preocupará com os sentimentos das pessoas. Se um dia, no entanto,
chegarmos ao nível de pleno emprego tão sonhado, serão eles que
correrão atrás de você”. Enquanto esse dia utópico não chega,
continuaremos com conselheiros e guerras de canudos.
Acidente planejado
Carros
freando, buzinas, sustos e gritos ecoando, arrepios, volantes
girando, alguns saindo no acostamento. Vidros, vidros e mais vidros
estilhaçados. Engarrafamento, ambulantes passando: “Olha água
geladinha: 2 real!”. Inflação.
Pessoas
impacientes, pessoas que não olham mais umas para as outras. Pessoas
ouvindo rádio, navegando no celular, vendo o tamanho do
congestionamento não-nasal – aliás antes fosse o nasal -, pessoas
se desculpando no telefone pelo atraso.
Calor
extremo, crianças pulando nos bancos, mães enfurecidas. Pessoas
pelo acostamento sentindo-se mais que os outros na fila. Pessoas com
carros turbinados engatinhando a 5 km/h. Dinossauros queimados na
gasolina.
Alguns
aliviando a ansiedade no cigarro, outros no movimento frenético dos
dedos, batuque no volante, vidros abertos, mãos mandando tudo à #!
Portas se abrindo, gente descendo do ônibus, motos e automóveis.
Todos perguntando o que se passava, sem olhar no rosto, sem ouvir,
afinal eram estranhos que se a Entidade Superior do Universo quisesse
não voltariam a rever-se.
Polícia
rodoviária chegando, um zigue-zague para abrir espaço, reclamações.
Espertinhos tentando ganhar terreno. Tudo parado novamente… Um
breve silêncio impaciente.
Sirenes,
sirenes, forte som, aquela dúvida: será que morreu alguém?
Ambulância abrindo as portas. Paramédicos imobilizando o paciente.
Chega
um curioso e pergunta: “é grave?”. A atenção dos médicos e
enfermeiras é tanta que não há resposta. Achei a carteira dele no
chão, diz outro. Nome: “Trânsito”.
Helicóptero
chega, cortejo para o atendido. Trânsito carregado. O trânsito não
tinha planejado esse fim, esse caos, esse amontoado de pessoas
olhando perplexas sem conseguir uma solução racional.
No
outro veículo preso nas ferragens estava o Governo: imóvel, sem
sentido. Os bombeiros não conseguiam resgatá-lo, população
observava de longe, o governo não tinha seguro, não tinha plano (de
saúde). A infraestrutura agonizava do lado, esposa tão maltratada
desde os tempos coloniais, com uma fratura exposta de um país
inerte. A Educação tão pequenina já não respirava, tão esmagada
que fora, sem cinto, sem verba, sem estímulo. Só lágrimas, lamento
e esperança dos que passavam na pista recém liberada do acidente.
Carta-soneto aos insanos possuidores de capacidades estranhas
Quem tiver olhos para cheirar, ouça!
Neste mundo, como acharei virtude?
À paz, quando dar-se-á magnitude?
Por que há quem a pobreza mereça?
Quem possuir tato para olhar, escute!
É necessário resgatar esperança.
Precisamos sonhar com real mudança.
Pense, proponha, pratique, vença, lute!
Aquele que tiver nariz para ouvir, veja!
Quando a crença será livre da dominação política?
Como espalhar amor a quem quer que seja?
Aquele que ouvido adquirir para comer, toque!
Para que temermos de lutar essa batalha tão crítica?
Força e alegria necessitamos para não mais andar a reboque.
Neste mundo, como acharei virtude?
À paz, quando dar-se-á magnitude?
Por que há quem a pobreza mereça?
Quem possuir tato para olhar, escute!
É necessário resgatar esperança.
Precisamos sonhar com real mudança.
Pense, proponha, pratique, vença, lute!
Aquele que tiver nariz para ouvir, veja!
Quando a crença será livre da dominação política?
Como espalhar amor a quem quer que seja?
Aquele que ouvido adquirir para comer, toque!
Para que temermos de lutar essa batalha tão crítica?
Força e alegria necessitamos para não mais andar a reboque.
O adstringente sabor azedo da paixão
Li em seus olhos os sonhos sublimes.
Fitei seu rosto compassivo e translúcido.
Saboreei singelamente seus movimentos labiais.
E inalei os mais homéricos sentimentos puros.
Tateei cegamente até encontrar seus poros.
Escutei as artérias ao pesquisar seus ciclos vitais.
Descrevi minuciosamente seu pensar tão nítido.
Pressenti bons auspícios em seus passos firmes.
Implorei para que ouvisse este servo ignóbil.
Supliquei que se rebaixasse e me amasse.
Roguei e meditei pacientemente sobre nosso destino.
Chorei alhures quando rejeitou-me em sua elegância sutil.
Custou-me acreditar que não adiantaria se gritasse.
Prostei-me assim mesmo perante sua face apesar do desatino.
Fitei seu rosto compassivo e translúcido.
Saboreei singelamente seus movimentos labiais.
E inalei os mais homéricos sentimentos puros.
Tateei cegamente até encontrar seus poros.
Escutei as artérias ao pesquisar seus ciclos vitais.
Descrevi minuciosamente seu pensar tão nítido.
Pressenti bons auspícios em seus passos firmes.
Implorei para que ouvisse este servo ignóbil.
Supliquei que se rebaixasse e me amasse.
Roguei e meditei pacientemente sobre nosso destino.
Chorei alhures quando rejeitou-me em sua elegância sutil.
Custou-me acreditar que não adiantaria se gritasse.
Prostei-me assim mesmo perante sua face apesar do desatino.
Racionalmente guiados pelo medo
Acabara de voltar à sua casa após uma caminhada. Subiu as escadas para tomar um banho. Um clique no interruptor e a luz do banheiro acendeu-se. E eis que em cima do tapete no centro do cômodo aparecia aquela imagem indesejada: uma barata! E das grandes! Será que voava? Por quais esgotos já havia passado? Um temor - semelhante aquele que tinha ao andar em ruas escuras à noite e passar por estranhos - resplandeceu em seu semblante.
O duelo parecia promissor. De um lado: 1,78m com polegar opositor, bípede e córtex desenvolvido. Do outro: 5 cm, com inúmeras patas, duas asas e resistente à radiação.
O animal irracional, mais precisamente, um inseto, balançava suas antenas possivelmente na tentativa de localizar o motivo pelo qual o ambiente havia mudado bruscamente. Imóvel, tal qual uma pessoa que teme novos passos quando as súbitas mudanças afetam consideravelmente sua percepção e situação no mundo, parecia refletir sobre qual a próxima atitude a tomar neste ambiente hostil.
Por sua vez, o animal racional, especificamente, um mamífero, gritava instintivamente e freneticamente por um chinelo. Em poucos instantes, seu irmão M que estava no quarto ao lado, veio assustado prestar assistência e observou o invertebrado. Mecanicamente, tirou seu enorme RIDER 42 e arremessou sobre o chão.
Ao menor sinal de movimento, o morador de esgotos rastejou rapidamente para fora do tapete. Contudo, o calçado lançado explodiu de raspão em sua preta carapaça e o impacto lhe deixou de cabeça para baixo.
Totalmente indefesa, assim como as crianças nas guerras procurando avidamente por seus pais em meio ao fogo cruzado, o diminuto ser mexia desesperadamente suas patas para fazer seu abdômen voltar a tocar o chão. Era como um bebê no berço que mexia suas pernas e braços e soluçava lágrimas para pedir alimento e proteção.
Enquanto isso, M sugeriu que seu irmão P pegasse o outro chinelo do par e executasse o abominável, sujo, invasor de lares e habitante das profundezas.
Acometido pelo instinto ancestral impresso em seus genes e torpe de medo por um animal inofensivo, mas potencialmente perigoso, P tomou o chinelo em suas mãos.
Entretanto, faltava-lhe o ímpeto para desfechar o golpe fatal. Ao pensar no estresse pelo qual era diariamente submetido e não conseguia extravasar, sentiu uma brecha para descarregar suas frustrações no amor e no trabalho, causados pela timidez e medo do fracasso. Então, brandiu quase instantaneamente seu "tacape" sobre o ser vivo. Melhor dizendo, morto esmagado agora.
Passada a adrenalina e recobrando a consciência, P pensava como pudera cometer tamanha atrocidade. Baratas teriam alma? Teriam vida após a morte? Reencarnação ou Reencarapaçamento? Qual seria a dor que P sofreria caso fosse daquela espécie e levasse um golpe desferido com tanta fúria? E os familiares de B, o que sentiriam? Infelizmente, esses questionamentos foram passageiros na mente de P, pois seus pais logo vieram para varrer o intruso e jogá-lo no lixo.
P desceu a sala e ligou a TV. Notícia internacional do dia: míssil lançado contra terroristas erroneamente atinge bairro residencial em Bagdá. 15 mortos recolhidos ou "varridos" dos escombros pelo medo da diferença. Sem tempo para raciocinar sob a relação entre os dois fatos, já era mostrada a previsão do tempo...
O duelo parecia promissor. De um lado: 1,78m com polegar opositor, bípede e córtex desenvolvido. Do outro: 5 cm, com inúmeras patas, duas asas e resistente à radiação.
O animal irracional, mais precisamente, um inseto, balançava suas antenas possivelmente na tentativa de localizar o motivo pelo qual o ambiente havia mudado bruscamente. Imóvel, tal qual uma pessoa que teme novos passos quando as súbitas mudanças afetam consideravelmente sua percepção e situação no mundo, parecia refletir sobre qual a próxima atitude a tomar neste ambiente hostil.
Por sua vez, o animal racional, especificamente, um mamífero, gritava instintivamente e freneticamente por um chinelo. Em poucos instantes, seu irmão M que estava no quarto ao lado, veio assustado prestar assistência e observou o invertebrado. Mecanicamente, tirou seu enorme RIDER 42 e arremessou sobre o chão.
Ao menor sinal de movimento, o morador de esgotos rastejou rapidamente para fora do tapete. Contudo, o calçado lançado explodiu de raspão em sua preta carapaça e o impacto lhe deixou de cabeça para baixo.
Totalmente indefesa, assim como as crianças nas guerras procurando avidamente por seus pais em meio ao fogo cruzado, o diminuto ser mexia desesperadamente suas patas para fazer seu abdômen voltar a tocar o chão. Era como um bebê no berço que mexia suas pernas e braços e soluçava lágrimas para pedir alimento e proteção.
Enquanto isso, M sugeriu que seu irmão P pegasse o outro chinelo do par e executasse o abominável, sujo, invasor de lares e habitante das profundezas.
Acometido pelo instinto ancestral impresso em seus genes e torpe de medo por um animal inofensivo, mas potencialmente perigoso, P tomou o chinelo em suas mãos.
Entretanto, faltava-lhe o ímpeto para desfechar o golpe fatal. Ao pensar no estresse pelo qual era diariamente submetido e não conseguia extravasar, sentiu uma brecha para descarregar suas frustrações no amor e no trabalho, causados pela timidez e medo do fracasso. Então, brandiu quase instantaneamente seu "tacape" sobre o ser vivo. Melhor dizendo, morto esmagado agora.
Passada a adrenalina e recobrando a consciência, P pensava como pudera cometer tamanha atrocidade. Baratas teriam alma? Teriam vida após a morte? Reencarnação ou Reencarapaçamento? Qual seria a dor que P sofreria caso fosse daquela espécie e levasse um golpe desferido com tanta fúria? E os familiares de B, o que sentiriam? Infelizmente, esses questionamentos foram passageiros na mente de P, pois seus pais logo vieram para varrer o intruso e jogá-lo no lixo.
P desceu a sala e ligou a TV. Notícia internacional do dia: míssil lançado contra terroristas erroneamente atinge bairro residencial em Bagdá. 15 mortos recolhidos ou "varridos" dos escombros pelo medo da diferença. Sem tempo para raciocinar sob a relação entre os dois fatos, já era mostrada a previsão do tempo...
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