A. Massa chegou em casa após um
cansativo dia de trabalho. Após o banho preparou a refeição,
fritando hambúrguer, esquentando arroz, uma simples salada. Sua
mente aos poucos ia se desligando do dia: as ligações, as
multitarefas, as cobranças. A adrenalina no sangue diminuía. Mesmo
assim continuava com um olhar distante. Estava em piloto automático.
Sentou-se no sofá, equilibrou o prato e ligou a televisão.
Um corte na carne, apresentação
das principais notícias do jornal. Uma garfada, informações sobre
violência no Rio. Trêmulo, aproximou o garfo da boca. Notícias do
tempo, mais calmo deu uma mordida. Quase não piscava. Com rapidez
engolia os alimentos. De tão desconcentrado os largos pedaços
desciam com dificuldade pela garganta empurrados pelo refrigerante.
A informação também era difícil
de engolir, de assimilar. Bastidores da política de Lizarb:
intrigas, corrupção. O amargo da rúcula lhe invadia as pupilas. A
economia e suas antigas novidades: crise e desemprego.
Uns 5 minutos e já acabara. Como
seria a digestão de tão veloz refeição? Haveria tempo para
absorver os nutrientes? Momento para uma sobremesa: iogurte. Notícias
do esporte: grandes clubes, grandes contratos, entrevistas com
jogadores e técnicos. Eles esbanjavam saúde. Ele tentava os
imitar... Se jogava? Sim. Da mesa do escritório para o sofá, depois
para a cama. Sedentário sentia o sabor do morango adocicando a boca.
Uma notícia relâmpago sobre alguma descoberta
científica. Mal falavam dos pesquisadores (era um tratamento quase
tão importante quanto ao dado aos jogadores). Encerramento da
edição. A. Massa continuava em um estado pouco reativo, não
conseguia questionar e absorver as informações.
Algumas horas depois e ainda estava estufado. Dor de barriga. Era uma pena. No vasto banquete de idéias, havia pouco tempo para refletir, estabelecer relações, conectar conceitos, apreciar sentimentos, desfrutar memórias, saborear versos, deglutir textos. A. Massa se contentava com alimentos pouco nutritivos: cachorro-quente, hambúrguer. Tudo semi-pronto, já preparado. Não queria, nem conseguia criar novos pratos, novas perguntas, novas oportunidades.
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