Acabara
de se graduar. Formatura bonita, momento de agradecer aos familiares
pelo apoio e compartilhar a alegria com os amigos. Na colação de
grau eram cinqüenta. Vários diplomas entregues, agora a serem
pendurados na parede.
Segunda-feira,
findo os estudos e festas era hora de procurar emprego. Começava uma
nova guerra. Antes de entrar na universidade os gurus diziam que área
estava em plena expansão. Estranho é que ao se formar o momento era
de forte recessão na área e não encontrara grandes oportunidades
de emprego antes de se formar.
Por
isso contratara Antônio, conselheiro... de carreira profissional.
Recebeu dicas de como escrever o currículo e carta de apresentação.
A outra lição, bem mais difícil, era aprender toda a interpretação
cenográfica de como se portar nas entrevistas: não olhe para baixo
(olhe nos olhos); não cruze os braços; não gesticule (será que o
ideal seria mover apenas os lábios?); conheça o que a empresa faz;
seja sincero: não minta, só omita a verdade.
Primeiro
processo seletivo, começaram com formulários intermináveis: nome,
endereço, telefone. Depois questões pessoais: informe três maiores
qualidades e três defeitos (a parte mais difícil), descreva seus
sonhos (podia dizer que dependia do dinheiro disponível?). Logo
após, uma série de questões técnicas práticas bem mais
desafiadoras que as aulas teóricas que precisou estudar para se
formar.
Passando
na primeira fase, dias depois foi convidado para participar de uma
dinâmica de grupo. Na roda em que se formara, identificou quatro ou
cinco colegas de turma. O coordenador apresentou-se como Euclides da
Cunha (por algum motivo o nome soava familiar). Pediu que todos se
apresentassem e contassem um pouco de seus metas profissionais e
pessoais e porquê gostaria de trabalhar na empresa. Cada indivíduo
usava como arma a melhor eloqüência possível para explanar sobre
suas prioridades, gostos, êxitos alcançados e objetivos para o
futuro. Euclides registrava tudo atentamente. Eram seres humanos com
objetivos muito semelhantes de usar sua saúde e capacidade de
trabalho para buscar felicidade com sua família e amigos.
Quando
todos terminaram Cunha determinou que se formassem grupos de 5
pessoas de acordo com as posições em que estavam sentados. No total
3 grupos. Então receberam um problema real da empresa que precisava
ser resolvido de modo consensual pelos membros da equipe. Aí, a
batalha efetivamente começou, cada indivíduo defenderia sua
ideologia. Não haviam escudos, canhões, espadas, sertanejos,
governo, rico ou pobre, monarquia ou república. Mas haviam canudos
se digladiando nas idéias, na habilidade de persuasão e na
capacidade de raciocínio. Sou bacharel USP, outro mestrado em
Oxford, e outro pós doutor em Stanford, e outro falo 5 línguas, e
mais outro intercâmbio social na África do Sul. Réguas
balançando, lápis pontiagudos perigosamente rabiscando. Certamente
haveriam baixas em ambos as frentes, apenas dois seriam contratados.
Com
muito vibração recebeu a notícia que estava selecionado para a
última etapa da seleção: a entrevista. Com nervosismo aparente
atuou no palco do escritório para o chefe ( seria do exército?)
conforme Antônio lhe ensinara.
Ansiosamente
aguardou pelo resultado. Recebeu-o via correio eletrônico.
Descobriu, contudo, que conselheiro estava do lado errado para aquele
processo: a empresa precisava de um outro perfil, mais despojado.
Fora capturado e rendido pelo inimigo. Derrotado na derradeira etapa
da luta.
Apesar
do desânimo, sabia que a vida teria de continuar, pois as guerras
nunca cessam. Além do mais, a vantagem da juventude é que há
bastante ânimo para tentar novamente por várias vezes.
Certa
vez o rapaz leu na Internet que: “Racionalize assim: enquanto
houver muito mais candidatos do que vagas, o mercado não se
preocupará com os sentimentos das pessoas. Se um dia, no entanto,
chegarmos ao nível de pleno emprego tão sonhado, serão eles que
correrão atrás de você”. Enquanto esse dia utópico não chega,
continuaremos com conselheiros e guerras de canudos.
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